Primeiro voo de Parapente do Parque Nacional do Itatiaia

 

Hike and Fly no Parque Nacional do Itatiaia

Montanhistas decolaram de parapente pela primeira vez do Parque Nacional do Itatiaia, a mais de 2.600m de altitude. A expedição de nove integrantes, dos quais seis eram pilotos, foi realizada com a aprovação e apoio da administração do parque no dia 16 de junho de 2016 e deu mais um passo em direção ao voo livre de montanha no Brasil.
 
O Parque Nacional do Itatiaia (PNI) é o mais antigo do país, fundado em 1937 e abriga, protege e organiza a visitação de três das dez mais mais altas montanhas do Brasil: Agulhas Negras (2.791m), Morro do Couto (2.680m) e Pedra do Sino do Itatiaia (2670m). Está localizado entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, bem próximo a São Paulo, na Serra da Mantiqueira. A direção do Parque pretende utilizar o relatório desta expedição para apoiar a avaliação de regulamentação deste esporte dentro dos seus limites. 
 
O local escolhido para a decolagem foi em uma crista próxima ao inicio da trilha do Morro do Couto, em direção ao Vale do Paraíba com linda vista para Serra Fina. 
 
 
A expedição e organização 
 
A expedição foi organizada por João Simonsen, aventureiro e empresário em São Paulo, que também cuidou da articulação junto a administração do parque para obter a autorização para a decolagem: 
 
– A administração do PNI, na pessoa do Leonardo, foi muito atenciosa desde o inicio do projeto. A maior preocupação deles é garantir a segurança dos membros da expedição, a segurança dos outros visitantes e o mínimo impacto na fauna e flora. – Diz João.
 
Os requisitos do parque foram atendidos de maneira criteriosa: João convidou apenas pilotos com experiência comprovada em montanhismo e a expedição foi no modelo “hike and fly”, no qual os pilotos carregam seu equipamento até o ponto de decolagem sem ajuda de veículos. Ainda, os pilotos se comprometeram a não arrancar nenhuma planta e decolar na paisagem como ela se apresentasse.
 
Os membros são de diferentes localidades: pilotos de Monte Verde – MG: John Boettcher e Christian Boettcher, pilotos de São Paulo capital: João Simonsen, Fabio Ferreira, Jefferson Estevam e Leandro “Montoya”, e equipe de apoio e suporte: Bharbara Cavalcante (Monte Verde – MG), Myka (São Bento do Sapucaí-SP) e Dian (Itamonte-MG).
 
“- Todos colaboraram de alguma maneira. Voamos juntos há algum tempo e já fizemos expedições juntos, inclusive fora do Brasil, então foi muito fácil o entrosamento”. diz John Boettcher
 
 
 
Os detalhes para realizar o primeiro voo do  Parque Naciona do Itatiaia
 
O planejamento levou meses, a analise prévia mostrou que o relevo do PNI apresenta inúmeros locais com possibilidade de decolagens. Os pilotos avaliaram as áreas próximas ao maciço das Prateleiras e Morro do Couto como as mais indicadas para decolagem com vento sul ou sudoeste e então escolheram datas com previsão de vento favorável a essas direções. Com esse cenário estaria garantido a decolagem em direção ao Vale do Paraíba, o qual apresenta muitas pastagens e campos com vegetação rasteira ideais para o pouso.
 
Com autorização em mãos, previsão do tempo favorável, equipamentos e malas prontas, a expedição se instalou por 3 dias no Abrigo Rebouças dentro do PNI. O abrigo, recém reformado, tem ótima estrutura com cozinha, refeitório, beliches, banheiros e ducha (fria). Muito frequentado por montanhistas, o clima é sempre de alto astral. O Abrigo Rebouças é disponível para qualquer visitante mediante agendamento prévio no site: http://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/reservas-reboucas .
 
 
Bem cedo na manhã do dia 16 os pilotos partiram com as malas nas costas rumo as montanhas, eles avaliaram 3 pontos de decolagem: o cume do Morro do Couto; uma laje de pedra voltada para sul próxima ao paredão Luiz Fernando; e uma crista com vegetação de campo de altitude, mais perto do inicio da trilha do Couto.
 
“- Entendemos que por estar em uma unidade de conservação, nenhuma atividade pode ultrapassar a prioridade de preservação dos recursos naturais, por isso a escolha do local de decolagem prezou a segurança e o mínimo impacto. Nós não abrimos uma “rampa” no Itatiaia, nós apenas usamos uma área natural propícia que já estava lá, não removemos nenhuma planta ou arbusto e evitamos pisoteamento, houve alguma dificuldade com o enrosco das linhas do parapente, mas foi preciso conviver com isso sem conflitar com os objetivos da unidade”. – diz Christian Boettcher.
 
Myka, montanhista de São Bento do Sapucaí que acompanhou a expedição como suporte, também ponderou a segurança: “os pilotos cogitaram decolar do cume do Morro do Couto, uma rampa natural de pedra, exigente e arriscada, mas optaram pela área de vegetação na crista por ser mais segura”.
 
 
O VOO
 
O voo durou cerca de 30 minutos e seguiu em direção para Vale do Paraíba, você pode conferir as lindas imagens no filme da expedição “Amantikir” disponível em https://vimeo.com/172112054.
 
“O parapente depende das condições meteorológicas para ganhar altura, então ficamos observando os pássaros e urubus para identificar as zonas ascendentes. Tínhamos esperança de subir e voar sobre o planalto do Itatiaia, mas não foi possível nessa primeira expedição, então voamos direto para o vale”. – explica John Boettcher, o primeiro a decolar.
 
O pouso foi tranquilo, em um pasto próximo ao km 16 da Estrada Rio – Caxambu, a mesma da dá acesso ao PNI para quem vem da Rodovia Presidente Dutra.
 
 
 
O parapente e as montanhas
 
O termo parapente tem origem no idioma francês em uma adaptação livre das palavras “parachute”  (paraquedas em inglês) + “pente” (encosta ou declive em francês). O esporte nasceu no final dos anos 70, também na França: montanhistas utilizavam paraquedas adaptados para descer das montanhas após suas escaladas.
 
O Brasil seguiu um caminho um pouco diferente: a prática do parapente (ou paraglider) se instalou junto a comunidade dos pilotos de asas delta e seguiu o costume de subir ao ponto de decolagem com veículos motorizados.
 
Por isso, as decolagens de montanhas de acesso apenas por caminhada ou escalaminhada é tardia no Brasil: só para ter referencia, a primeira decolagem de parapente do Mont Blanc, na França, é datada no final dos anos 80.
 
Para Leandro Montoya, a tendência está ganhando força no Brasil: “A prática do “hike and fly” (caminhada e voo) está crescendo a cada dia, há grupos organizados em São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais”.
 
Além das redes sociais, pilotos se organizaram para difundir informações e pontos de decolagem dessa modalidade em hikeandfly.com.br que já conta com 10 roteiros, a maioria em SP e MG.
 
 

VIDEO

 
Confira o filme da Expedição: “Amantikir”:

AMANTIKIR from João Pedro Simonsen on Vimeo.

 

Texto: “Leandro Montoya” Publicado no jornal “Metro News”.

Montanhista, Piloto de parapente e entusiasta do Hike and Fly. Primeiro a decolar do Pico da Neblina, montanha mais alta do Brasil! Editor do primeiro site dedicado a modalidade no Brasil.

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