Fabio Ferreira pronto para decolar da Pedra da Mina, no sexto dia da Transmantiqueira |
Uma expedição de 340km no modelo voo de bivouac!
Voar a Transmantiqueira! De onde saiu essa idéia?
A idéia surgiu em conversa com os amigos e parceiros de vôo Christian e John Boettcher, de Monte Verde-MG. Eles comentaram da possibilidade de conectar os picos da Mantiqueira voando. Quando mais novo eu já tinha feito a travessia da Serra Fina, Travessia Marins Itaguaré, escalado na Pedra do Baú e visitado muitas das montanhas da Transmantiqueira. Eu também já tinha feito as conexões entre uma montanha e outra de bicicleta. Quando comecei a voar, mesmo ainda inexperiente, passei a sonhar com chance de conectar todos esses lugares maravilhosos da Mantiqueira em uma única expedição.
Voando sobre a classica travessia Marins-Itaguaré, depois de decolar do Pico dos Marins |
Porque não foi voando o trecho todo?
Como foi o planejamento?
Não foi como eu esperava. Saí de casa naquela manhã do primeiro dia para voar na Pedra Grande como faço normalmente, eu estava entusiasmado porque a previsão do tempo mostrava um dia ótimo para vôo longo, pensei em tentar voar até Extrema, que fica uns 40km de casa. Acontece que tive medo de não ter ônibus para voltar para casa à noite, estávamos na expectativa da quarentena, então por precaução peguei meu equipamento de Bivouac (equipamento mínimo para pernoite em área selvagem).O dia foi tão espetacular e voei até Extrema, passei por cima da Serra do Lopo e continuei engatando nas termais até Monte Verde! Aliás esse era um vôo que eu queria MUITO fazer e nunca tinha conseguido. Depois desse início inesperado e incrível, decidi tentar continuar a rota da Transmantiqueira nos dias seguintes!
Bivouac perto da Pedra do Baú |
Onde você dormia e o que você comia?
Quando pousei em Monte Verde no final do primeiro dia, encontrei com meus amigos irmãos Boettcher e tive casa e comida na residência deles. Os demais dias tiveram uma rotina mais ou menos assim: eu procurava pousar perto de um vilarejo ou cidade onde eu fazia uma refeição completa. Depois, seguia caminhando em direção ao ponto de decolagem do dia seguinte e escolhia um local para acampar pelo caminho. Levava comigo salame, queijo e água para o café da manhã. Tomava banho nos ribeirinhos e cachoeiras.
Então você andava um bom trecho todos os dias?
Sim, todos os dias caminhava antes e depois do vôo, do percurso total de aproximadamente 340km, caminhei uns 150km e voei o restante.
A rampa da Pedra do Baú com o Bauzão ao fundo à esquerda |
Você fez o percurso todo sozinho?
Fiz o Transmantiqueira sozinho, mas estive muito bem acompanhado! Os amigos ficaram sabendo da empreitada e vieram voar trechos comigo: Voei em Atibaia com Edu Morais e em Monte Verde decolamos Chris e John Boettcher e Jefferson Estevam. Em Piranguçu o piloto Clóvis me passou várias dicas de rotas. O Pico dos Marins foi quase uma expedição, encontrei com Ricardo Rui, Jé “Monstro”, Hugo e Kaynã, por fim na Pedra da Mina voamos juntos Jé “Monstro” e Vinicius.Foi muito legal encontrar a turma para as caminhadas e vôos, dava um incentivo, eles ficaram me perguntando quantos dias eu estava sem banho (rs).
Dia 2 – Pilotos Chris, John e Fábio aguardando para decolagem em Monte Verde-MG no dia 2 da Transmantiqueira |
Ricardo Rui, Jé “Monstro”, Kaynã Rodrigues e Hugo Shimada acompanharam Fabio no Pico dos Marins. |
Qual foi o maior perrengue?
Bivouac no dia 5, a caminho do Pico dos Marins |
Sem dúvida a passagem do quarto para o quinto dia. Decolei em Piranguçu-MG e tinha o objetivo de chegar o mais perto possível do Pico dos Marins, porém acabei pousando perto de Wenceslau Braz. Não encontrei lugar para refeição completa, tive que me virar com uns lanches de mortadela e uns pastéis. Rachei 27 km no hike até o acesso à estrada de terra para Pico dos Marins, foram 6h de caminhada. Encontrei um rancho e montei meu equipamento de bivouac antes que caísse meu disjuntor e eu dormir lá pelas 23h, fez muito frio naquela noite. A manhã seguinte ainda caminhei mais 15km até a base do Pico dos Marins para iniciar o hike até o cume com meus amigos.
O que mais te emocionou?
O inicio e o final! Quando pousei no último dia, depois de decolar da Pedra da Mina, as lágrimas desceram, é muito gratificante realizar um sonho aqui na Mantiqueira, essas são nossas montanhas, lugar onde passei momentos felizes durante toda a vida. O primeiro vôo de Atibaia até Monte Verde foi também muito especial, eu já tinha tentado fazer esse vôo várias vezes nos últimos anos e nunca tinha dado certo. Dessa vez consegui ir aproximando da cidade voando alto e, entre uma térmica e outra, mandei uma mensagem para o John dizendo – hoje vai, me espera aí! – . Quando cheguei no aeroporto da cidade (hoje desativado) John, o amigo que me inspirou a voar em 2014, estava me aguardando lá embaixo. Ele botou uma fé que eu ia conseguir chegar, foi emocionante. Celebramos com cerveja!
Como lidou com a quarentena?
Muitas cidades ainda não haviam estabelecido a quarentena e tive pouquíssimo contato com os locais. Dormi isolado no mato. Mantive o distanciamento social.
Qual era seu plano de emergência?
Levei comigo um spot caso ocorresse algum acidente grave. Conservei a bateria do celular ligando apenas quando precisava. Foi tudo tranquilo, dormir por aí não era um problema porque eu conhecia a região. Eu também tinha o paraquedas reserva para o caso de alguma pane em vôo.
Qual a maior lição que você aprendeu?
Fluiu tudo muito bem na viagem, os dois primeiros vôos ajudaram muito a preencher um grande percurso. O que aprendi é que fazer uma trip de bivouac não é um bicho de sete cabeças, pelo contrário, é bem simples na verdade. Eu preciso melhorar um pouco meu saco de dormir porque passei um pouco de frio à noite, é preciso dormir bem.
Dia 5 – Caminhando em direção ao campo base do Pico dos Marins. |
Lista de equipamentos:
ROTEIRO GERAL
Voando em direção nordeste na crista de Monte Verde-MG, a direita, encoberto, o vale de Santa Barbará próximo a São Francisco Xavier
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Texto: Leandro Estevam “Montoya”
Entrevista: Fabio Ferreira “Pé”
Julho 2020
13 de julho de 2020
Mandou muito bem Pé. Realizou um sonho e abriu a porteira para os próximos a se aventurar assim nas montanhas que choram. Parabéns.