Hike and Fly em Governador Valadares!

Durante essa última semana de carnaval, fui pela primeira vez conhecer e voar na famosa rampa no Pico da Ibituruna em Governador Valadares, pico clássico de Cross que costuma receber voadores do mundo todo.

Coincidentemente no sábado, domingo e segunda feira, dias 18, 19 e 20, pudemos acompanhar a Copa Mineira de Cross Country, o que foi muito legal pois desde que comecei a voar em 2018 praticamente não tive nenhum contato com esse mundo do voo tradicional e muito menos frequentei rampas com grande fluxo de voadores.

Foi um experiência muito bacana ver ao vivo aquele mar de parapentes no ar que só tinha visto em fotos e vídeos, mas ao mesmo tempo foi chocante ver o tamanho dos equipamentos, com seletes gigantescas, com seus dois reservas, e a galera colocando litros e litros de lastro nos “tanques”, algo que desconhecia.

Por outro lado nós da turma do hike and fly chegávamos caminhando pela trilha até a rampa e por algumas vezes fomos recebidos com salva de palmas… rsrsrs 

A galera nos enxerga como verdadeiros ETs: – Como assim vocês vieram andando? Sabiam que tem ônibus até a rampa? Brincavam alguns.

Pois é… A gente sabe. É impressionante como a “vibe” nos dois tipos de voo é tão diferente. Não estou aqui julgando de forma alguma qualquer uma das tribos, mas realmente parece que praticamos um outro esporte. 

Nos dois casos estamos falando de voo, mas a minha sensação é de que estamos em sintonias totalmente diferentes.

Mas os dias foram se passando e a cada vez que apontamos no fim da trilha, ao lado da rampa de asa, olhos atentos se voltavam para nós e as perguntas sobre os equipamentos eram inevitáveis:

  • Mas esses equipamentos duram menos, né?
  • Mas é só pra descer, não dá pra fazer cross, né? 
  • Mas essa selete é desconfortável, não dá pra voar por horas, né?

Eu sou muito novo no voo e não sei dizer de onde vem essa percepção dos voadores clássicos, da “velha guarda”. Como essa cultura do “dura menos”, “voa menos”, etc é tão enraizada entre os “cross-zeiros”?

Por um lado foi muito bom esses dias de socialização entre as turmas, para tentarmos de alguma forma desmistificar esses conceitos errados.

Tecnicamente falando, os equipamentos “LIGHT” para o hike and fly possuem exatamente a mesma durabilidade de qualquer outro equipamento. tanto as velas normais como as lights possuem a mesma vida útil de aproximadamente 300 horas, segundo informações dos próprios fabricantes.

Claro que os equipamentos LIGHT possuem tecidos e linhas mais finas, às vezes sem capa; seletes com tecidos e fitas muito mais finos em materiais como kevlar e dyneema, portanto são sim mais sensíveis à abrasão. São materiais que toleram menos erros de decolagem, arrastões, pousos de bunda, enroscos em vegetação. Mas afinal não foram feitos pra isso, não é mesmo?

Quanto ao conforto, temos seletes extremamente confortáveis como qualquer outra porém também mais sensíveis, às vezes com menos proteções passivas como mousses, pranchas de carbono, espumas, etc. 

Pico da Ibituruna

Mas percebam como os pilotos nos X-Alps voam por muitas horas durante muitos dias seguidos de prova justamente com esses equipamentos LIGHT, quase sempre com protótipos que serão posteriormente lançados ao público.

Vale dizer também que as velas LIGHT por terem menos “massa”, tem um comportamento muito mais dócil, sobem mais fácil à cabeça na decolagem, tem menos inércia “sacudindo” menos na turbulência, geralmente são mais rápidas na recuperação de colapsos, além do óbvio; menos peso e volume na mochila! 

Um bom equipamento de H&F completo pesa em média 8 a 12kg com um volume de 50 a 70L.

Bom, minha intenção aqui não é mudar todos os voadores de um dia pro outro, mas plantar a semente e a curiosidade, para que eventualmente você tente subir pra rampa caminhando, que procure equipamentos mais leves.

Um bom começo é mandar seu equipamento no carro de alguém e subir andando. Sentir que você subiu e desceu por conta própria é muito bom. E quem sabe curtindo a brincadeira, você passe a usar itens LIGHT e depois de alguns anos você já possua um SET UP completo!

Valadares é uma rampa clássica, de fácil acesso por carro ou até mesmo ônibus de linha, e veja só, nós subimos caminhando todos os dias. 

Entenda o seguinte: o Hike and Fly é um estado de espírito, um “mind set” de quem está disposto a ser autônomo no voo!  Esqueça carro, esqueça resgate; caminhe, pegue carona, volte de ônibus, seja livre assim como o voo!

Aventure-se!

Mas uma coisa é certa! Só um equipamento realmente leve te dará essa liberdade!
Na minha opinião, o futuro é esse, só depende de você embarcar nessa.

Bons voos! 

Alê Silva

2 Comments

  1. Juliana Marques
    24 de fevereiro de 2023

    Muito bom fazer parte do Hike e Fly, e curtir a trilha, a paisagem, o desafio de subir a montanha a pé. Parabéns pelo texto Ale!

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    1. Leandro Montoya
      25 de julho de 2023

      Sempre bem vinda Ju!

      Responder

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